Eu já contei aqui no blog tudo que é preciso para planejar, se preparar para a Travessia Petrópolis x Teresópolis e conhecer a belíssima Serra dos Órgãos no artigo O que esperar da Serra dos Órgãos.
Agora que você já sabe como se preparar fisicamente para uma travessia e o que levar na mochila tá na hora de ler como foi a minha experiência. Vem caminhar comigo!
A travessia Petrópolis x Teresópolis: a caminhada na Serra dos Órgãos
Primeiro dia: ambientação e muita subida
Começamos o passeio saindo de Belo Horizonte/MG até Petrópolis/RJ em uma van com o nosso guia da Bicho Homem Eco Adventures. Depois da viagem, tomamos um café reforçado em uma padaria em Petrópolis/RJ. Para quem não optar em utilizar o transporte desde a capital mineira é possível encontrar com o grupo nesse ponto e de lá seguir até a entrada do parque.
Já na porta do PARNASO assinamos a ficha de entrada, sendo que nosso guia tinha realizado todos os demais procedimentos para o ingresso a travessia. Ali tem um ponto de abastecimento de água gelada onde foi sugerido que cada pessoa tivesse consigo pelo menos 2 litros para o início da trilha.
Recebemos mais instruções e dicas de como apertar a mochila na parte de baixo para aliviar o peso, regulando as alças sempre nos trechos de subida ou descida. Logo no início começaram os trechos em aclive, porém sem muita dificuldade.
As primeiras horas de caminhada foram com algumas paradas de um minuto para que o grupo pudesse seguir sempre junto e também fazer pausas para descanso. Ao longo do percurso a montanha ia revelando belas paisagens. Fazia sol e o dia estava com ótima visibilidade.
Depois de algum tempo caminhando um dos participantes do grupo começou a reclamar de câimbras e dores nos joelhos. Até cheguei a dar para ele um dos comprimidos de cloreto de potássio que eu tinha levado, mas mesmo assim na hora que paramos para o almoço nosso guia decidiu que ele deveria retornar até a entrada do parque e não seguir o percurso.
Por isso não custa lembrar: é muito importante conhecer os seus limites. Nós ainda não tínhamos passado por nenhum trecho técnico, que depois fiquei imaginando como ele faria se tivesse continuado. Após o lanche, seguimos a subida. O ponto mais bonito desse primeiro dia foi quando chegamos no morro do Açu. Ali fica uma pedra bem grande, onde subi mais que depressa e tirei várias fotos, inclusive uma que está no Instagram @turisteiro.
Já praticamente no final do dia meu joelho começava a dar sinais de que estava cansado. Fui o último a chegar no castelo do Açu e enquanto o grupo fazia fotos pulando eu só queria sentar e descansar. A poucos passos encontramos o abrigo, que parecia um oásis depois de 7 horas de caminhada na Serra dos Órgãos.
Primeira noite: banho, comida e cama!
Logo ao deixar as coisas no abrigo todos estavam loucos por um banho. Nós já havíamos recebido a notícia na entrada do parque que não seria possível tomar banho de chuveiro em razão do baixo volume de água do topo da montanha.
Então ficamos sabendo que bem ao lado do abrigo tinha um pequeno poço (impossível de banho) onde daria para encher o balde com água. Foi organizada uma fila e um a um fomos lavando as partes necessárias. Teve gente que conseguiu lavar até o cabelo!
Estava tão cansado e suado que precisava daquilo para me revigorar. Assim, tomei um banho improvisado com meio balde de água, mais do que suficiente para lavar todo meu corpo.
Finalmente depois de trocar de roupa me deitei. As pernas latejavam e a coluna dava sinais de que também estava incomodada. Fiquei por ali algum tempo até que uma das meninas do nosso grupo comentou que conhecia técnicas de alongamento. Mais que depressa todo mundo se dispôs a alongar com ela. E como aquilo fez diferença viu? Santa Ajuda!
Por volta das 19h nosso gentil responsável pelo abrigo serviu o jantar. A refeição teve arroz, feijão, bife de boi ou omelete, vinagrete e farofa. Posso dizer que a melhor comida é aquela que se come quando tem fome. E foi assim que apreciamos o nosso banquete.
Leia também: Cachoeiras na Serra do Cipó – dicas e roteiro do básico ao avançado
Na sequência fomos todos para a cama e acredito que por volta das 20h30 eu já estava no meu sono mais profundo. Depois de uma subida de 1100 metros e 7 horas para percorrer 7km e sem sinal de internet não havia outra opção.
Segundo dia: a superação dos desafios
Acordamos por volta das 6h15 e organizamos as coisas para o segundo dia. Enquanto nosso querido responsável do abrigo preparava o café da manhã fomos até o lado de fora para alongar.
Eu sempre soube da importância do alongamento, mas posso dizer que nesse dia ele fez toda a diferença para me ajudar a ter mais disposição. Portanto alongue-se sempre antes de começar a caminhar!
O dia amanheceu com muita neblina, mas a expectativa era que tudo iria melhorar. Coloquei a minha joelheira antes de começar a trilha e depois de tirar uma foto do grupo na frente do abrigo iniciamos mais um dia da travessia caminhando pela Serra dos Órgãos.
Por incrível que pareça meu corpo não estava muito dolorido, mas a mochila começou a incomodar os ombros. Mais uma vez lembrei que deveria ter carregado menos peso. E assim seguimos passando por trechos com a visibilidade praticamente zero.
Após passar pelo morro do macaco e, de onde teoricamente se veria o portal de Hércules, só neblina. Não dava pra enxergar um palmo na frente do nariz. Foi quando bateu uma certa frustração, afinal não veria nem mesmo o famoso dedo de Deus.
E um dos pretextos de fazer a travessia era justamente fotografar aquele cenário deslumbrante e registrar esse momento. Foi aí que nosso sábio guia disse uma coisa que ficou ecoando na minha cabeça: a montanha entrega para cada um aquilo que precisa buscar. Então acabei refletindo: não se apegue tanto as fotos e registros, mas sim a experiência que você estava vivendo.
Mesmo assim, como blogueiro e uma pessoa que produz conteúdo na internet, precisava muito daquelas fotos para ilustrar meu trabalho. Mas ao mesmo tempo percebi que a viagem na verdade estava se transformando mais uma jornada pessoal. Certamente que o destino queria me ensinar a valorizar outras coisas e me desconectar do universo virtual. Aceitei a lição e segui em frente.
As expectativas de que seria possível ver alguma coisa foram totalmente descartadas quando a neblina se transformou em chuva e a caminhada ficou mais complicada e molhada. Passamos por terrenos escorregadios, algumas pessoas levaram tombos leves pelo caminho até finalmente começarem os trechos técnicos.
Os trechos técnicos da caminhada na Serra dos Órgãos:
É no segundo dia da travessia que estão os trechos de maior dificuldade e onde eu não recomendo se aventurar sem a presença de um guia. O primeiro deles é carinhosamente chamado de elevador. Que na verdade era uma espécie de escada feita com grampos de ferro e precisava ser escalada por sei lá quantos metros de altura. Recebemos as instruções e um a um fomos subindo, sempre tentando ajudar todo o grupo e intercalando as meninas no meio. Graças a Deus nenhum acidente até o topo da colina.
Na sequência andamos mais um pouco e fizemos a descida em uma pedra com o uso de corda. Algumas meninas tiveram dificuldade pois a corda só ia até o final da pedra, sendo necessário agachar e descer sentando por alguns metros. Nesse momento um dos participantes do grupo subiu até aquele ponto e foi auxiliando elas, uma a uma. Foi um belo momento para exercitar o espírito de equipe e empatia.
Seguimos caminhando pela trilha até mais uma descida conhecida como mergulho. Nesse ponto a chuva apertou e todos já estavam bem molhados. Tivemos de esperar que a descida pela corda fosse feita um a um. Foi quando precisei exercitar a paciência, pois de nada adiantava querer apressar a descida e os demais participantes.
E foi justo na minha vez, quando já estava quase no final, que precisei fazer um salto e meu braço foi com tudo na pedra. Um escorregão e ganhei o ralado para me recordar de tudo que estava aprendendo naquela jornada. Doeu. Mas eu só pensava em arranjar um lugar seco pra tentar trocar a camisa e espantar o frio. Consegui improvisar isso debaixo de uma pedra e aproveitei para passar um pouco de álcool gel na ferida.
Mais andança e a pausa para o almoço foi dentro de um bambuzal. Comemos de forma um pouco improvisada tentando nos esquivar da chuva de toda maneira, o que era quase impossível. Nessas horas que a gente aprende a dar valor em cada coisa simples. E tanta gente que nem comida tem. Imagina se tivesse que passar por isso todos os dias? Portanto é melhor agradecer do que reclamar não é mesmo…
Continuamos até chegar em um dos pontos mais temidos por quem faz a travessia: o cavalinho. Enfileirados entre pedras e uma estreita trilha, nosso guia subiu primeiro e posicionou novamente a corda. Um a um tínhamos que usar as pernas para se apoiar nas pedras até conseguir “montar” naquele obstáculo chamado de cavalo.
O mais difícil era manter o equilíbrio e não olhar para o lado, onde estava um desfiladeiro. Pouco a pouco todos iam passando para a parte mais alta. As meninas tiveram um pouco mais de dificuldade e mais uma vez um elemento atrapalhava na hora da subida: a mochila nas costas.
Portanto mais uma vez vou dizer: carregue o mínimo de coisas que puder para que sua travessia seja mais fácil e menos exaustiva. Dali andamos por mais cerca de uma hora até o abrigo. Todo mundo só queria se livrar da chuva e vestir roupas secas. Fazia bastante frio e nesse dia o banho foi apenas com lenços umedecidos.
Devidamente aquecidos fizemos mais um jantar e o o corpo dava mais sinais de que seria puxado concluir o terceiro dia. Talvez pelo excesso de adrenalina ou porque fiquei mais alerta tive um pouco de dificuldade para dormir. No segundo dia superamos 10 horas de caminhada e 11 km no que nosso guia classificou com as piores condições que se podia enfrentar na caminhada pela Serra dos Órgãos.
Terceiro dia: a descida da redenção
O planejado era que se não tivesse chovendo poderíamos ver o nascer do dia na pedra do Sino. Ficou combinado que se isso acontecesse o grupo estaria de pé por volta das 5h20min. Entretanto meu relógio despertou as 6h15min para ajeitar a mochila e tomar o café. Ninguém subiu porque a visibilidade estava comprometida.
Saímos com um pouco de atraso. Mas ao menos o tempo estava firme, até com um pouco de sol. O maior desafio desse dia era evitar as poças de água pelo caminho.
E na medida em que íamos descendo senti um pouco mais o joelho direito. Até que a chuva deu as caras outra vez. Na reta final meu maior desejo era apenas me livrar da mochila e chegar em Teresópolis.
Quando avistei a cidade pensei que ela estivesse mais perto, mas não. Nesse dia confesso que fiquei um pouco mal humorado. Foram intermináveis 11km até finalmente avistar a saída da trilha e a van que nos levaria de volta até Belo Horizonte.
O que a travessia significou para mim?
É claro que cada um vai ter a sua própria experiência ao participar desse tipo de evento. Uns com mais dificuldade e outros com menos. Agora uma coisa posso garantir: é difícil terminar o percurso sem ter pensado em muitas coisas, sem se questionar sobre valores, hábitos e comportamentos. Pra mim ajudou a entender um pouco mais da essência humana e de mim mesmo.
Não é novidade que as pessoas tem buscado cada vez mais o turismo de experiência. A busca pela imersão, seja nos costumes locais ou para vivenciar hábitos ou tradições é algo que tem motivado pessoas que querem acrescentar muitas coisas em suas vidas.
No meu grupo tinha médico, engenheiro, empresário, policial, membro da aeronáutica e pessoas desempregadas, cada um com os mais diferentes propósitos. Eu mesmo não tinha ideia do que esperar da caminhada na Serra dos Órgãos que acabou sendo uma grata surpresa.
Mesmo não saindo exatamente como esperava e sem poder contemplar a bela vista da montanha, aprendi a lição de que nem tudo precisa sair como a gente gostaria para que uma experiência seja boa.
Com essa vivência também pude aprender a dar mais valor a muitas coisas que passam despercebidas no dia a dia. Como um banho, ainda que de forma improvisada e com pouquíssima água, enquanto por tantas circunstâncias a gente se delonga debaixo do chuveiro desperdiçando esse recurso cada vez mais escasso e tão precioso.
Questionei também meus critérios de limpeza e conforto, quando estava no abrigo aquecido e dentro de um saco de dormir em cima de um colchão simples e sem nem mesmo um travesseiro. Mesmo assim eu tinha tudo que precisava para descansar.
As refeições que muitas vezes simplesmente não fazemos ou reclamamos do sabor, da quantidade ou da hora, ali nos alimentaram de forma muito satisfatória. E como deve ter sido difícil levar tudo aquilo até o alto da montanha antes de prepará-la.
Durante a caminhada senti dores, muitas vezes quis parar mas não pude pra não atrapalhar o ritmo do grupo. Em outras horas quis ir mais depressa, mas também não dava porque ali éramos um time. Dividimos lanches, água, histórias e suporte o tempo todo uns com os outros. Isso pra mim foi um verdadeiro trabalho em equipe.
Em tempos em que as pessoas cada vez mais sozinhas e isoladas tudo isso me ajudou a sentir um pouco mais humano.
Portanto ainda que esse passeio possa levar a exaustão, a experiência como um todo da travessia Teresópolis x Petrópolis mexeu muito comigo e certamente contribuiu no caminho para me tornar um ser humano melhor.
E a minha conclusão é: se você estiver com a saúde e o preparo em dia, o aprendizado dessa jornada pode te ajudar a encontrar respostas e resultados transformadores para toda sua vida. Então aventure-se!
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Até logo!
ツ
Uau!!! A descrição da aventura foi tão real que quase me senti vivendo cada momento! As fotos, mesmo com neblina ou chuva, mostram a generosidade da natureza. Descrição perfeita do que penso realmente ter sido uma trilha rumo à felicidade.
Muito feliz que tenha gostado! Obrigado pelo seu comentário…
😉